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terça-feira, 21 de setembro de 2010
Adalgisa Nery OG feminista intelectual brasileira
Og Contos
Adalgisa Nery
editora: José Olympio
ano: 1943
descrição: 1ª Edição; Capa de Santa Rosa. livro em bom estado.
O Brasil também tem mulheres notáveis e avançadas na sua História. Mas como somos um país sem memória, a enorme contribuição social dessas mulheres vai se perdendo pelo caminho. Adalgisa Nery é um bom exemplo disso.
Adalgisa Nery, mulher corajosa, à frente do seu tempo, escritora e jornalista poderosa e invejada morreu, aos 74 anos de idade, em 7 de junho de 1980, na miséria e na solidão. E caiu no esquecimento.
Poeta e cronista. O casamento com Ismael Néri foi importante para o seu desenvolvimento intelectual, pois na casa do marido apareciam Aníbal machado, Álvaro Moreira, Jorge de Lima, Antônio Bento, Murilo Mendes, Mário Pedrosa, Manuel Bandeira. Seu primeiro poema foi publicado na "Revista Acadêmica". Os primeiros contos e crônicas foram publicados em "O Jornal", "Dom Casmurro" e "O Cruzeiro". Em 1940 casou-se com Lourival Fontes, chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda. Viajou com o marido pelo exterior. Depois de separada de Lourival Fontes, se profissionalizou como jornalista, tendo destaque a sua colaboração no jornal "Última Hora". Em 1960, foi eleita deputada pelo Partido Socialista Brasileiro, pelo então Estado da Guanabara.
Ela nasceu no começo do século passado, em 29 de outubro de 1905 mas viveu a liberdade que ainda vão viver as meninas que nasceram em 2005, um século depois dela.
O poeta Carlos Drummond de Andrade a chamava de “a deusa”.
Era famosa, invejada e lutadora.
O também famoso pintor Ismael Nery foi seu primeiro marido e pintou inúmeros retratos dela.
Era cronista, jornalista, poeta e trabalhou na televisão.
Era politicamente de esquerda, do partido socialista. Mas casou-se e viveu 14 anos com o chefe da repressão da Ditadura de Getúlio Vargas.
Aliás, dizem que ela também foi amante do ditador.
Morreu com 74 anos, numa casa de idosos que o apresentador de TV Flávio Cavalcanti pagava para ela.
Adalgisa Maria Feliciana Noem Cancela Ferreira nasceu numa família pobre do Rio de Janeiro. Sua mãe morreu quando ela estava com apenas 8 anos de idade e seu pai a internou num colégio de freiras, onde havia vagas beneficentes.
Adalgisa sentiu então, pela primeira vez, o peso da discriminação. Era uma órfã pobre, estudava por caridade e tanto as colegas como as freiras não deixavam que ela esquecesse disso.
No entanto, como já habitava nela o espírito da justiça social, começou a protestar contra o tratamento discriminatório que recebia e, por isso, foi expulsa da escola.
Seu primeiro amor aconteceu aos 15 anos: apaixonou-se perdidamente por um vizinho. Era Ismael Nery, que seria um dos mais famosos pintores do Brasil e integrante do movimento Modernista de 1922. Ela casou-se com ele em 1921 e começou a frequentar a intelectualidade do Rio de Janeiro. O casal viveu dois anos na Europa e teve 7 filhos, dos quais apenas 2 sobreviveram.
Ismael, embora fosse um gênio das artes plásticas, era um tremendo machista e vivia espancando a esposa. Por isso, foi um alívio para ela a morte dele em 1934.
Viúva antes do 30 anos de idade, com dois filhos, ela foi trabalhar na Caixa Econômica Federal e depois no Conselho do Comércio Exterior, no Itamaraty. Poucas mulheres trabalhavam naquele tempo. Mas Adalgisa não era uma mulher qualquer.
Seu primeiro livro de poesia foi lançado em 1937.
Adalgisa era conhecida no meio intelectual carioca como socialista e surpreendeu todo mundo ao se casar com um legítimo representante da direita, o advogado e jornalista Lourival Fontes, diretor do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – que era o braço repressor da ditadura de Getúlio Vargas, o equivalente ao que foi o DOPS na ditadura militar, especialista em torturar cruelmente qualquer inimigo político.
Lourival virou embaixador e Adalgisa viveu com ele em Nova Iorque, onde ele serviu por dois anos, e no México, em 1945. Nesse país, ela fez o maior sucesso, ficou amiga de Frida Khalo e Diego Rivera, que admiravam o seu talento literário.
De volta ao Brasil, em 1953, Lourival se apaixonou por outra mulher e separou-se de Adalgisa, que ficou arrasada.
Mas já era uma mulher famosa no Brasil e no Exterior, especialmente na França, onde seus livros vendiam muito.
Escrevia crônicas nos jornais do Rio e traduzia obras para a editora José Olympio. Então foi trabalhar com Samuel Weiner, num dos mais importantes jornais da época, a Última Hora.
Seus artigos eram nacionalistas e ela batia de frente com grandes nomes da elite brasileira, inclusive Assis Chateaubriand, o famoso fundador da TV no Brasil e do Museu de Arte de São Paulo, o MASP. Ele a odiava e, certa vez, escreveu sobre ela a chamando de “cinquentona devassa, infiel ao corpo, à alma e à decência conjugal.”
No entanto, ele estava apenas dando voz aos seus preconceitos machistas, já que Adalgisa sempre foi uma mulher sexualmente livre, enquanto ele é quem tinha um comportamento moralmente duvidoso na condução de suas empresas de comunicação.
Adalgisa Nery se tornou uma das mais bem sucedidas escritoras brasileiras quando, em 1959, publicou um romance autobiográfico – A Imaginária – que virou um best seller de primeira. No livro ela escancarava uma questão que ninguém tinha coragem de discutir naquele tempo: a violência doméstica, contando todo o terror que vivera nas mãos de seu primeiro marido, o consagrado Ismael Nery.
Adalgisa foi duas vezes deputada, primeiro pelo Partido Socialista e depois pelo MDB (atual PMDB). Em plena ditadura militar, ela continuava desafiando os costumes conservadores e foi um dos políticos cassados, em 1969, pelo AI-5 (Ato Institucional n.5 do governo militar que acabou de vez com os direitos políticos dos cidadãos brasileiros).
Adalgisa tornou-se uma figura “perigosa” e ninguém queria saber de dar-lhe um emprego. Ela foi ficando deprimida. Foi salva pelo então famoso apresentador de TV Flávio Cavalcanti, que a colocou como jurada em seu programa de calouros.
Flávio, naquela época, tinha a fama de “dedo duro” da Ditadura Militar. No entanto, foi ele quem abrigou inúmeros artistas e intelectuais que se tornaram “malditos” por sua oposição ao regime. Foi ele quem, inclusive, escondeu a musa Leila Diniz, depois da famosa e escandalosa entrevista que ela deu ao “Pasquim”, e a livrou de ser presa.
No meio da década de 1970, Adalgisa foi viver na casa de campo que Flávio tinha em Petrópolis, sozinha e longe da badalação do mundo intelectual que ela sempre frequentara.
Mas ainda assim, nessa época, publicou dois livros de poesia, dois de contos e um romance.
Em 1976, a própria Adalgisa resolveu ir viver numa casa de idosos em Jacarepaguá. Flavio pagava as despesas.
Em 1977 teve um derrame e ficou hemiplégica.
Obras:
Poemas, 1937
O Jardim das Carícias, 1938
A mulher ausente (poemas), 1940
Og (contos), 1943
Ar do deserto (poemas), 1943
Cantos de angústia (poemas), 1948
As fronteiras da quarta dimensão (poemas), 1952
A imaginária (romance), 1959
Mundos oscilantes (poemas) 1962
Retrato sem retoque (crônicas), 1966
22 menos 1 (contos), 1972
Neblina (romance), 1972
Erosão (poemas), 1973
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