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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Classico Anticlassico Giulio Carlo Argan Renascimento Brunelleschi Bruegel
Classico Anticlassico
Giulio Carlo Argan
editora: Cia das Letras
ano: 1999
descrição: Livro em ótimo estado de conservação. livro raro de encontrar, contem uma dedicatoria do antigo dono, escasso, não perca.
Nesta brilhante coletânea de artigos, o autor de Arte moderna propõe uma análise extremamente original da arte renascentista. Sua abordagem pode ser resumida na rivalidade entre os artistas da época: os clássicos - que se inspiravam nos modelos da Antigüidade - e os anticlássicos - que pretendiam superar esses modelos.
Em outros termos, clássico seria o moderno que procurava superar padrões herdados dos antigos, enquanto o anticlássico reinterpretaria os velhos cânones da representação. Argan analisa a obra de grandes mestres da pintura, da escultura e da arquitetura - como Botticelli, Michelangelo, Leonardo da Vinci e Brunelleschi -, e, numa linguagem precisa mas cheia de entusiasmo, mostra que nelas permanece viva a eloqüência de cada artista
Nesta coletânea de ensaios Argan lança um olhar indagador sobre a arte renascentista, analisando-a à luz dos conceitos de clássico e anticlássico, que se revestem de significados cada vez mais ricos à medida que expõem as inúmeras possibilidades do diálogo com os modelos da Antiguidade.
No século XV, a cidade italiana de Florença assistiu a uma das primeiras greves da História. Ofendido pela arrogância do arquiteto Filippo Brunelleschi, um grupo de artesãos resolveu cruzar os braços diante da catedral de Santa Maria del Fiore, em fase final de construção. Se os peões não tivessem voltado ao trabalho, talvez hoje a Itália não pudesse orgulhar-se da igreja, que funde alicerces e paredes góticas projetados no século XIII por Arnolfo di Cambio com sua estupenda cúpula renascentista, o "balão levitante" de Brunelleschi. Visto por um compêndio tradicional da história da arte, um motim trabalhista como esse seria mera curiosidade. Mas o crítico e historiador Giulio Carlo Argan (1909-1992) diagnosticou na briga do arquiteto com os artesãos um sintoma do declínio das artes e dos ofícios medievais e o nascimento da arquitetura moderna. A nova era trazia a divisão e a conseqüente hierarquia entre a criação intelectual do artista, no caso o intratável Brunelleschi, e a mera execução de seu projeto, a cargo dos pedreiros.
Numa tradução fluente de Lorenzo Mammì, o livro Clássico Anticlássico, de Argan reúne trinta ensaios sobre a renascença escritos no decorrer de mais de cinqüenta anos. Claro, preciso e inspirado, é uma obra fundamental para a compreensão da arte renascentista.
Ao analisar dados como a greve dos pedreiros de Florença à luz do humanismo da época, o autor propõe uma visão menos determinista e mais enriquecedora do período estudado. Antes dele, os críticos costumavam dividir os artistas renascentistas em duas tribos: a dos clássicos, como Michelangelo, tidos como herdeiros diretos dos gregos e romanos, e a dos anticlássicos, como Botticelli, "desobedientes" aos cânones da Antiguidade que regulavam do tema à perspectiva de um quadro. Sob a ótica de Argan, dono de sólida formação marxista, personagens como Michelangelo, Leonardo e Rafael se transformam em homens de carne e osso, sujeitos a contradições e livres dos estereótipos que os marcaram no decorrer de séculos.
No caso de Michelangelo, o autor encontra nítidos traços anticlassicistas em sua obra, expressos, por exemplo, no drama que embalou a criação de seu projeto preferido, o túmulo do papa Júlio II, em Roma, que exibe o majestoso Moisés como figura central. Nele, Michelangelo imaginava criar um monumento clássico inigualável que fundiria arquitetura, escultura e pintura. Essa intenção se mostrava bem de acordo com a filosofia renascentista, segundo a qual o primeiro objetivo do artista seria alcançar uma forma perfeita, à imagem de Deus. Foi aí exatamente que Michelangelo tropeçou.
Durante quatro décadas, teve de interromper seu trabalho para, entre outras tarefas, pintar o teto da Capela Sistina, a mando do próprio Júlio II. O resultado é que o projeto do túmulo foi perdendo fôlego e viço. Como nota o autor, "a crise do projeto do túmulo é justamente a crise da síntese das artes", ou seja, a crise do otimismo renascentista. À sua maneira, observa Argan, Michelangelo não coube nos rótulos: foi clássico e anticlássico, "e não era possível ser uma coisa sem ser a outra". Com isso, o crítico não quis dizer que o gênio italiano ficou em cima do muro, mas que se impôs uma tarefa de tamanho vulto que se tornou impossível cumpri-la. Michelangelo tornou-se, assim, tese e antítese ? e nisso reside sua grandeza.
Giulio Carlo Argan (Turim, 1909 ? Roma, 1992) foi historiador e teórico da arte italiano e ex-prefeito de Roma.
A partir da década de 1930 passa a ser conhecido no meio acadêmico internacional com seus estudos sobre arte medieval e renascentista. A importância de sua obra é tal que seus livros são considerados bibliografia fundamental de cursos de história da arte do mundo todo. Em sua obra, destacam-se livros como Arte Moderna, Clássico e Anticlássico, História da Arte como História da Cidade.
Em 1976 é eleito prefeito de Roma e em 1982, senador, em ambos os casos pelo Partido Comunista Italiano.
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