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sábado, 29 de janeiro de 2011

João do Rio O Momento Literário Garnier (1910) S.d.

João do Rio

O Momento Literário

Garnier

(1910) S.d.

Livro em bom estado de conservação, com capa dura original.



Palestras com Olavo Bilac, Coelho Neto, Júlia Lopes de Almeida, Filinto de Almeida, Padre Severiano de Resende, Félix Pacheco, João Luso, Guimarães Passos, Lima Campos; cartas de João Ribeiro, Clóvis Beviláqua, Sílvio Romero, Raimundo Correia, Medeiros e Albuquerque, Garcia Redondo, Frota Pessoa, Mário Pederneiras, Luís Edmundo, Curvelo de Mendonça, Nestor Vítor, Silva Ramos, Artur Orlando, Sousa Bandeira, Inglês de Sousa, Afonso Celso, Elísio de Carvalho, etc. etc.


O leitor será levado por João do Rio a sentir-se ambientado no clima intelectual da época, na qual realizou as trinta e seis entrevistas que compõem o livro O Momento literário. O excelente texto desse jornalista de vanguarda, que foi considerado por muitos o melhor de seu tempo, prende o leitor, da primeira a última página. A primeira dessas entrevistas foi feita com Olavo Bilac, passando por João Ribeiro, Sílvio Romero, Coelho Neto, Clóvis Beviláqua, Osório Duque Estrada, João Luso, Mário Pederneiras, Inglês de Souza, Raimundo Corrêa e dos demais escritores que integram o rol dos trinta e seis entrevistados.

João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista e escritor, tornou-se célebre com o pseudônimo de João do Rio (adotou também outros: José Antonio José, Joe, etc).


O escritor faleceu quando contava com 39 anos, mas foi tempo suficiente para que tivesse produzido uma importante obra literária; isso se deveu, entre outros motivos, o fato de ter se iniciado cedo no jornalismo - com apenas 16 anos -, escrevendo para revistas, passando em seguida a integrar o jornal Cidade do Rio, de José do Patrocínio. Depois, na Gazeta de Notícias, dá início às excelentes entrevistas, com as quais se notabilizaria, expoente que foi desse meio de
manifestação literária.



"O público quer uma nova curiosidade. As multidões meridionais são mais ou menos nervosas. A curiosidade, o apetite de saber, de estar informado, de ser conhecedor são os primeiros sintomas da agitação e da nevrose. Há da parte do público uma curiosidade malsã, quase excessiva. Não se quer conhecer as obras, prefere-se indagar a vida dos autores. Precisamos saber? Remontamos logo às origens, desventramos os ídolos, vivemos com eles. A curiosidade é hoje uma ânsia... Ora, o jornalismo é o pai dessa nevrose, porque transformou a crítica e fez a reportagem. Uma e outra fundiram-se: há neste momento a terrível reportagem experimental. Foram-se os tempos das variações eruditas sobre livros alheios e já vão caindo no silêncio das bibliotecas as teorias estéticas que às suas leis subordinavam obras alheias, esquecendo completamente os autores. Sainte-Beuve só é conhecido das gerações novas porque escreveu alguns versos e foi amante de Mme. Vítor Hugo. Talvez apenas dele se recordem por ter essa senhora esquecido o gigante para amar o zoilo. Quem vos fala hoje, a sério, de Schlegel, de Hegel, ou mesmo do pobre Hennequin? A crítica atual é a informação e a reportagem. Há alguns anos, Anatole France dizia: «A crítica é como a filosofia, e a história uma espécie de romance para uso dos espíritos avisados e curiosos. Ora, todo romance no fundo é uma autobiografia, e o bom crítico é aquele que conta as aventuras da própria alma entre as obras-primas.» Atualmente, para o grande público, já não é isso. Se o romance, desde Balzac, outra coisa não foi senão a reportagem, genial ou não, da moral e dos costumes, a crítica é a reportagem dos autores. Só dominam hoje os que vão ao local, indagam, vêm e escrevem com o documento ao lado. A crítica passou a ser uma consulta experimental, como a fazem Brisson e Huret, e eu posso assegurar que tenho uma impressão muito mais justa e exata de Zola ou de Rostand, quando Brisson os narra numa das suas entrevistas, que lendo toda a panegírica e todos os insultos de que o Cyrano e a Terre tenham sido causa."



João do Rio e seu O Momento literário, dá assim a oportunidade aos leitores de tomarem contato com o excelente texto do escritor carioca, e de transportarem-se aos primeiros anos do Século XX, na convivência com um Bilac, um Coelho Neto, um Raimundo Correia. E, quem já o leu, certamente terá a oportunidade de fazer uma nova leitura da obra.




"Recebo-o na volta da sua longa viagem. Nestor Vítor está transformado. A violência, aquele ar de pedagogo zangado com que procurava convencer os discípulos, desapareceu. É um cidadão que passou por Paris, que viveu em Paris, que civilizou todas as arestas do temperamento na polidez de Paris.
Três anos antes faria reflexões a propósito do meu inquérito, reflexões onde haveria de certo alguns desaforos, alguns axiomas, algumas ironias e muito talento. No momento em que lhe pedia as suas idéias, entretanto, sorriu.
Já? Quando quiser. O tempo de refletir. Os jornais não deixam a gente tempo para muita coisa. Passou os olhos pelo questionário. Mas é grave!... Mando-lhe a resposta, amanhã. E sabe? Encantado, positivamente encantado...
No dia seguinte recebia a seguinte carta: ?Meu caro João do Rio. O terceiro livro, de Abílio, adotado na escola em que aprendi a ler, é que me proporcionou os primeiros arrebatamentos que o verso me produziu. A ?Minha Terra?, de Casimiro de Abreu, e o ?Adeus aos meus amigos do Maranhão?, de Gonçalves Dias,e a ?Ode aos Baianos?, do primeiro José Bonifácio, incluídos naquela miscelânea, deixavam-me fora de mim quando eu os lia, ou mesmo simplesmente ouvia ler, tanto mais se a leitura era feita em voz alta e com certa ênfase. Eu caía quase que em verdadeiro paroxismo, tal a deliciosa exaltação que se apoderava do meu espírito."

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